O EMBUSTE DO
AJUSTE FISCAL E
AS POLÍTICAS PÚBLICAS
UNIVERSALISTAS
É um flagrante EMBUSTE a frequente afirmação na mídia que a
Constituição Federal/88 não proveu o Estado de orçamento para financiar os
direitos sociais e promover o desenvolvimento do país. Os capítulos da Ordem
Econômica e da Ordem Social consagram esse provimento: o orçamento da seguridade
social – OSS – foi concebido para ser superavitário o que vem se verificando
até hoje. O falso déficit deve-se a renúncias fiscais não debatidas com a
sociedade e principalmente ao corte de 20% (DRU) para financiar compromissos
julgados prioritários como os juros e outros encargos crescentes da dívida
pública, que hoje consomem mais de 47% do Orçamento Geral da União. Para o SUS
a CF indicou 30% do OSS incluindo o fundo da Previdência Social na base de
cálculo o que não vem sendo cumprido. A dívida pública e seus encargos vem de
um engendramento nos anos 90, refém do “tripé” superávit primário - cambio alto
- meta de inflação, que gera o ciclo:
elevação dos juros para conter a inflação/elevação da dívida/elevação do
superávit/desinvestimento no desenvolvimento e nas políticas sociais/desindustrialização/inflação/elevação
dos juros. O reducionismo desse “tripé” e do controle da inflação somente com a
elevação dos juros bloqueia o desenvolvimento e é arbitrado pelos bancos e alto
empresariado nacional e global que acumulam intensivamente o capital financeiro
especulativo.
EMBUSTE decorrente é
o de que a elevação da receita fiscal penaliza mais ainda os consumidores e
empresas produtoras de bens e serviços, mais do que já vem sendo penalizados
pelos impostos indiretos como IPI, ICMS e ISS. Escamoteia a tributação ou
aumento da tributação da renda evadida do país, dos fluxos financeiros
especulativos, dos lucros e dividendos das aplicações e das grandes fortunas e
heranças, o que é indicador de conquista civilizatória vigente em inúmeras
sociedades, mesmo sob o regime capitalista, que em consequência mantém
tributação aos produtores e consumidores muito menor que a nossa. Vale lembrar
que nosso sistema tributário recolhe 32,8% da renda dos 10% mais pobres e 22,7%
da renda dos 10% mais ricos, e que da renda familiar até 2 salários mínimos 54%
são recolhidos, enquanto da renda familiar acima de 30 salários mínimos só 29%
são recolhidos.
Outro EMBUSTE é o de
que os gastos públicos com os direitos sociais
e infraestrutura do desenvolvimento são perdulários/excessivos, quando
deveriam ser austeros/enxutos, e que os gastos com os juros e outros serviços
da dívida pública, ficam blindados contra a qualificação de
perdulários/excessivos, pelo contrário, contemplados como dogma ético, de honra
para a cidadania e, por isso, intocáveis pelo Estado, pela sociedade e por
auditorias independentes. Na realidade o “ajuste e austeridade” alardeados não vem
sendo um meio para o desejável equilíbrio fiscal e desenvolvimento, mas
sim um fim: o de perpetuar a concentração da riqueza nacional nos
credores e rentistas da nossa dívida pública. Cada 1% de elevação em nossa taxa
de juros corresponde a 30 bilhões na
elevação da nossa dívida pública. No início de 2015 o ajuste fiscal proposto
foi de 60 bilhões para o superávit primário, neutralizado a seguir por elevação
de 2% nos juros. No último dia 30/Jul a taxa foi elevada em 0,5% correspondendo
a 8,47 bilhões, e já no dia 31 foram cortados 8,47 bilhões nas despesas
federais para manter o superávit(incidiram na saúde e educação). Além dos altos
juros travarem as demais responsabilidades inabdicáveis do Estado pelo altíssimo gasto com a dívida
pública , travam também os consumidores e empresários do sistema produtivo no
desenvolvimento.
Um terceiro EMBUSTE
que vem crescendo desde os anos 90 refere-se a baixa ou nula transparência dos subsídios públicos
a começar da desoneração fiscal a empresas no mercado. Além dos objetivos
estratégicos indiscutíveis e inabdicáveis de estímulo a cadeias produtivas
decisivas ao desenvolvimento da economia nacional e do emprego, a ausência de
debate democrático com a sociedade e segmentos sociais diretamente implicados,
propiciou que parte crescente da grande elevação desse gasto público permaneça sob séria
suspeita. No último quinquênio estão estimados em R$458 bilhões, comparáveis a
17 anos do programa social Bolsa Família, e podem ser tomados como exemplos da
ausência de debate democrático com a sociedade e Legislativo, a forte renúncia
fiscal e outros subsídios públicos a: aplicações financeiras, empresas de
planos e seguros privados de saúde e seus consumidores, montadoras de
automóveis, móveis, queijo do reino e outras.
Recentemente três altos dirigentes empresariais
manifestaram-se publicamente. O presidente da Comp. Siderúrgica Nacional
denuncia que: a)os grandes empresários
vem investindo mais na especulação que nas empresas produtivas, estimulados
pelos altos juros, b)entre 2013 e 2015 foram gastos pelo governo federal com
juros, o correspondente a 38 anos do Bolsa-família, e c)a elevação de 7% na
taxa de juros em 2013 corresponde ao dobro do gasto no SUS e mais que o dobro
na Educação. O presidente da Ass. Brasileira de Indústria de Máquinas denuncia os
altos juros, o cambio alto e os impostos que penalizam muito mais a produção
nacional que a importação, tudo levando á desindustrialização: nossos
fabricantes quebram se insistir na produção, e transformam-se em montadores e/ou importadores , utilizando o mesmo chão de
fábrica. O presidente da Federação do Comercio do ESP denuncia a elevação dos
juros pelo BC como trágica e equivocada: transfere a renda do setor produtivo
para os bancos, intensificando as distorções e desigualdades no país.
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