POR UMA LEGISLAÇÃO
TRIBUTÁRIA REPUBLICANA E
DEMOCRÁTICA MOLA PROPULSORA
DE REAL DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
E SOCIAL
(Contribuição ao debate e suporte para militância do MRSB)
Os tributos consomem hoje 32% da renda dos 10% mais pobres,
21% da renda dos 10% mais ricos e 6,7% da renda dos 0,05% super-ricos que detém
14% da renda total declarada. Para estes últimos, 2/3 da renda incluindo lucros e dividendos, é
legalmente isenta de tributação. Menos da metade da nossa arrecadação provem de
tributos progressivos como o IR (nos países desenvolvidos são em média 2/3 da
tributação), ainda assim, de progressividade dos pobres até a classe média e
grande regressividade da classe média aos super-ricos. Mais que metade da nossa
arrecadação provem dos tributos mais regressivos(diretos) como o IPI, ICMS e
ISS que penalizam tanto mais a cidadania quanto menor sua renda, e penalizam
muito mais a produção(bens e serviços) do que as aplicações e rendimentos
financeiros. As massas de assalariados e autônomos com renda familiar abaixo de
2 salários mínimos tem 54% da sua renda
familiar tributada, enquanto as camadas com renda acima de 30 salários mínimos
tem 29%. A própria CPMF proposta é parcialmente progressiva por iniciar sua
incidência acima do rendimento mensal de R$ 10 mil, mas regressiva por tributar
extensas camadas médias(segundo o Ministério da Fazenda, 72% de empresários)
que automaticamente repassam os valores para os seus preços, levando mais uma
vez os consumidores a bancar.
Assim a riqueza em nossa sociedade flui dos fundos públicos
para os privados: proporcionalmente, os pobres pagando mais impostos financiam
para a classe media e rica, o consumo privado de saúde e educação em empresas
beneficiadas com renúncia fiscal do governo. Não temos a maior carga tributária(35,4%% dos
tributos no PIB) do mundo, é menor que a da maioria dos 15 países mais
ricos(OCDE), mas temos a carga tributária socialmente mais injusta: na sua
arrecadação e no baixo, distorcido e desviado retorno ás necessidades e
direitos da população. Em 2008 a nossa camada social com renda mensal entre
R$3.000 e 10.000 trabalhou em média 157 dias para o recolhimento de tributos
das três esferas, e mais 117 dias para comprar no mercado serviços de Saúde,
Educação, Previdência, Segurança e Pedágio, enquanto as populações da França,
Inglaterra e Suécia usufruíram desses serviços, de qualidade, assegurados por
políticas públicas universalistas de Estado.
Os citados 0,05%
super-ricos compõem os 1% mais ricos, certamente o top da elite financeira que
tem tudo a ver com o R$ 1trilhão em paraísos fiscais, R$ 500bilhões de
sonegação acumulada em 2015 e parte dos R$ 458bilhões de renuncia fiscal não legitimada
democraticamente para o desenvolvimento e emprego. Segundo W.Safatle para essa
parcela tão minoritária não há crise, seus rendimentos são crescentes com base
nos altíssimos juros; são a nova e mais rica classe que vive sem trabalhar,
apenas gerindo patrimônio, riqueza, heranças e aplicações financeiras, acima
até dos industriais e empresários produtivos: somos o país deles. Intelectuais
conhecidos e competentes, economistas pontificados e magnos da mídia a eles
servem, amalgamados ao centro globalizado. Grande parte da classe media alta e
parte da media media a eles servem na Av. Paulista e em Copacabana, alienada
e/ou distorcida de que suas frustrações e ansiedades são também fruto da
concentração nessa elite.
Essa estrutura e estratégia hegemônicas na política
tributária é hoje amalgamada com a estratégia do ajuste macro-econômico pela
mesma elite, que impõe ou convence como intocável, indiscutível ou clausula
pétrea os juros e demais serviços da dívida pública, delimitando o debate
republicano do equilíbrio fiscal receita—despesa á extração de um saldo de
receita, “sagrado” para os juros e demais serviços. As despesas tornam-se de
pronto gastos perdulários e estatizantes a serem enxugados. É a relação sofismada de déficit e superávit
visando o pagamento de juros e serviços que crescem blindados de qualquer controle republicano
democrático. Por isso, o chavão inculcado pela elite financeira: primeiro os
cortes orçamentários e só depois novas receitas(e se vierem, que sejam regressivas).
Ilustrando: cada 1% na elevação da nossa taxa SELIC(referencia dos juros)
repercute na elevação de R$30 bilhões em nossa dívida pública. No início do
corrente ano foi oficialmente proposto o ajuste de R$60bilhões com tenso debate
receita x despesa, para logo a seguir dar lugar a 2% de elevação na SELIC
correspondente a R$60 bilhões, sempre sob a “mágica” nacional inexplicável de
controlar a inflação exclusivamente com a elevação dos juros.
Tudo a ver com a
séria e inadiável ampliação das lutas do MRSB(o mesmo na educação, transporte,
habitação, segurança pública, e demais direitos sociais universais) para a
reformulação do ajuste fiscal de do sistema tributário. Por exemplo, o debate
amplo para formulação de sistema tributário realmente progressivo: por óbvio
nossos governos não comportam esse espaço, nem sua área econômica vem
pesquisando e buscando alternativas progressistas.
Algumas entidades ou
estudiosos vem ensaiando algo, por mero exemplo, só em relação ao IR: desonerar
as rendas até R$10 mil mensais, taxar as demais em tabela progressiva de
alíquotas de 5% em 5% até 40% ficando as de 35% e 40% para as rendas acima de
80 salários mínimos. Só em relação a esse imposto, em 2013 a arrecadação
passaria de R$ 105 bilhões para R$ 300 bilhões. Para não falar na democrática e
imperiosa necessidade do resgate integral do Orçamento da Seguridade Social e
sua missão conforme contemplado na CF/1988.
Esta contribuição necessita revisão técnica de profissional
engajado(a) nas lutas democráticas, aproveito para referenciar Grazielle David
da diretoria do CEBES e assessora do INESC (Inst. Nacional de Estudos
Socio-econômicos), cujos textos ao lado de alguns outros me mobilizaram. Ela já
participa em um conjunto de entidades que se movimentam na luta por reforma
tributária democrática e popular, o que penso ser um dos desafios
impostergáveis para o MRSB, incluindo as bases das suas entidades.
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